Há dias entrei no estabelecimento comercial de retalho de produtos mistos, e verifiquei que no balcão só estava o proprietário e meu amigo, Sr. Gilberto, o qual me disse de imediato que estava sozinho, porque o seu genro e esposa estavam doentes e acamados. A sua nora há bastante tempo que tinha ído buscar os pitos, e ainda não tinha chegado!
O meu amigo é uma pessoa muito simpática e além de ser um comerciante abastado, com diversas propriedades agrícolas, é muito estimado pelas pessoas daquela freguesia paradisíaca de Ponte do Lima. Verifiquei que a clientela tinha-se deslocado lá em "peso", o que motivou uma observação minha, dizendo ao Sr. Gilberto - A minha visita deu-lhe sorte, o estabelecimento está a abarrotar de clientes - respondeu-me que as muitas Senhoras que lá estavam, esperavam pela nora e consequentemente pelos pitos que ela fora buscar - Ah, respondi eu algo intrigado.
Eu quase não tinha sítio para conversar com o meu amigo, e sempre que me deslocava para um espaço vazio, dava com a cabeça em qualquer coisa que estava pendurado no tecto: ou num cacifre de pesca, num bacalhau, num conjunto de botas ou sapatos, o que calhasse! Porque o material para venda é tanto, que por muito que seja o espaço, está tudo repleto até ao tecto!
De repente apercebemo-nos do ruído duma viatura, e aquelas senhoras da Aldeia foram logo ver quem era, e aperceberam-se que era a nora do comerciante, trazendo os pitos e pitas que há tanto tempo esperavam. Ficaram todas contentes com a cara de riso de satisfação.
Já dentro do estabelecimento a nora do comerciante, que estava com ar cansado, pois também é muito franzina, denotava também algum agastamento, sinal que nem tudo correu pelo melhor. No entanto começou logo a interrogar as clientes de quantos pitos pretendia cada uma, sempre mais de cinquenta!
É então que se gera grande confusão, porque umas só queriam pitos e outras pretendiam também pitas. Exclamou logo a Nora! - Eu sei lá quais são os pitos e as pitas! - Como têm conhecimento é o meu Bruno (marido) que trata disto e eu apenas fui buscá-los porque ele está doente com gripe como sabem.
Eu fingia que não me estava a aperceber de nada, pois também o assunto não era comigo, mas ao ouvir bastante alvoroço daquelas clientes de cara corada devido ao calor e não só, prestei alguma atenção, mas discretamente.
Dizia a nora : - eu não sei quais são os pitos e as pitas. São muitos os caixotes que trago e não têm lá escrito qualquer indicação se são machos ou fêmeas! Mas não convenceu as clientes com essas palavras, porque desejavam levar para criação pitos e pitas.
Disse uma cliente com aspecto de mais "reguila" - é fácil as pitas são as que se agacham e os pitos são os que se põem por cima! A comerciante algo irritada disse: -Agora que eles vêm cansados do calor é que estão para isso! Outra cliente mais tímida disse: - também há uma forma de distinguir os pitos das pitas. - Os pitos possuem um pequeno " coisa" e por aí também se conhece. Diz a comerciante agora é que vamos estar a ver isso!
Eu acabei por dizer uma frase - Os pitos podiam ser pintados numa cor à escolha, e assim estava o assunto resolvido. Fez-se silêncio que não sei se era de aprovação ou não. Insisti, fazendo-me de "alonso" - é verdade mas os pitos não têm, crista? - responderam quase em coro - Só têm crista quando forem maiores. Ah! pois não me lembrava disso!
Finalmente chegou-se a uma conclusão. Disse a vendedora: - vocês levam a quantidade que desejarem e se a encomenda não estiver conforme, faz-se a troca das aves entre vocês, ao que aderiram à proposta e finalmente as pessoas levaram as encomendas, com a garantia de poderem trocar pitos por pitas, ou vice-versa.
E assim terminou aquilo que eu presenciei, tendo achado muita piada ao regionalismo " pitos e pitas, em vez de pintos ou pintainhos! Quando me lembro disso, como agora apetece-me sempre rir!
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